Não se deleita na força do cavalo, nem se compraz nas pernas do homem. Salmo 147:10, AA
Meu pai gostava muito de passear no litoral. Ele não possuía um automóvel; por isso, pegávamos o bonde (tram, como chamamos na Austrália) rumo à cidade de Adelaide. Em seguida, pegávamos outro bonde que levaria meia hora para nos deixar na praia.
Uma vez lá, vestíamos a roupa de banho e mergulhávamos na água. Às vezes caminhávamos ao longo da praia com as ondas batendo nos pés descalços. Muitas vezes apenas ficávamos sentados na areia, observando o oceano. Nesses momentos, penso que meu pai se recordava dos dias em que navegou pelo mundo. Às vezes, ele contava sobre os navios, os capitães e os lugares que visitou.
Quando nasci, meu pai já estava com quase 50 anos. Por isso, minhas lembranças mais vívidas dele são de uma pessoa idosa. Lembro-me de observar suas pernas, demarcadas por veias grossas, uma rede de pequenos capilares azuis e algumas manchas escuras. Meu pai trabalhou arduamente, trabalhou com as mãos carregando cargas de tijolos e cimento. Suas pernas revelavam o preço pago pelo esforço.
Para uma criança, no entanto, aquelas pernas eram interessantes, não repulsivas. Eram as pernas do meu pai, o homem que tinha me carregado nos ombros numa idade avançada, que tinha trabalhado árdua e honestamente sob o Sol intenso, em meio à poeira e ao suor, para colocar o pão na mesa de nossa família.
Meu pai descansou há muito tempo, mas ainda vou ao litoral. Caminhar ou correr na areia gelada, deixando as ondas se quebrarem em meus pés descalços logo ao raiar do dia e observando as aves marítimas voando ao redor, talvez seja o mais próximo que eu consiga chegar da alegria da eternidade nesta vida.
Sento-me na areia e olho para o oceano. Observo as minhas pernas, agora demarcadas por veias grossas e uma rede de pequenos capilares azuis. Vejo algumas manchas escuras próximas ao tornozelo. Eu também trabalhei duro, mas não com o trabalho braçal. Essas pernas carregaram meu filho e minha filha (e agora os netos) em meus braços e ombros. Essas pernas me carregaram por longas viagens a muitos países. Elas me sustentaram nas trilhas montanhosas e maratonas que percorri.
O salmista disse que o Senhor não Se compraz nas pernas do homem. Ele Se compraz naqueles que O temem e nos que “esperam na Sua misericórdia” (Sl 147:11, ARA).
Nenhum comentário:
Postar um comentário