domingo, 28 de fevereiro de 2010

Crime e castigo

Pois aquele que faz injustiça receberá em troco a injustiça feita; e nisto não há acepção de pessoas. Colossenses 3:25

Há um ditado popular que diz: “Aqui se faz, aqui se paga.” Vários personagens bíblicos expressaram essa mesma crença. Quando os irmãos de José chegaram ao Egito para comprar alimentos, José, reconhecendo-os, os declarou espiões e mandou prendê-los. Então seus irmãos julgaram que todo esse mal lhes sobreviera porque haviam maltratado seu irmão no passado (ver Gn 42:21, 22).

O rei Adoni-Bezeque, ao ser derrotado pelos exércitos de Judá e Simeão, teve os polegares cortados. Então fez a seguinte confissão: “Cortei os polegares de setenta reis, e [...] agora Deus me fez pagar do mesmo jeito!” (ver Jz 1:7).

Acabe matou Nabote e Deus mandou o profeta Elias dizer-lhe que ele teria o mesmo fim (ver 1Rs 21:19).

Salomão disse: “Se até os justos são castigados durante esta vida por causa de seus pecados, imagine o que acontecerá ao pecador rebelde!” (Pv 11:31, BV).

Davi cometeu adultério e homicídio, ao tomar para si Bate-Seba, a mulher de Urias. Quando ele se arrependeu, Deus lhe perdoou o pecado mas não removeu as consequências: “Agora, pois, não se apartará a espada jamais da tua casa, porquanto Me desprezaste e tomaste a mulher de Urias, o heteu, para ser tua mulher” (2Sm 12:10).

Os judeus exigiram de Pilatos a condenação de Cristo clamando: “Caia sobre nós o Seu sangue e sobre nossos filhos!” (Mt 27:25). Ellen White, ao comentar este texto, diz: “Terrivelmente se cumpriu isso na destruição de Jerusalém. Terrivelmente se tem manifestado na condição do povo judeu durante todos estes séculos [...] Terrivelmente será aquela súplica atendida no grande dia do Juízo” (O Desejado de Todas as Nações, p. 739).

Este comentário mostra que os resultados dos atos de uma pessoa poderão ser colhidos em sua própria vida, na vida de seus filhos, ou no Dia do Juízo. Nem tudo será pago agora, pois, se assim fosse, não haveria necessidade de um Juízo Final. O que é certo, porém, é que Deus estabeleceu um dia em que trará “a juízo todas as obras, até as que estão escondidas, quer sejam boas, quer sejam más” (Ec 12:14).

A única maneira de evitarmos as consequências eternas do pecado é o arrependimento sincero, a confissão a Deus e a aceitação do Seu perdão. Então “o castigo que nos traz a paz” será lançado sobre Jesus, pois “o Senhor fez cair sobre Ele a iniquidade de nós todos” (Is 53:5, 6).

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Repreendido por um pagão

Jonas, porém, havia descido ao porão e se deitado; e dormia profundamente. Jonas 1:5

Muitos anos atrás obtive permissão da Marinha Brasileira para visitar a ilha da Trindade, a 1.100 quilômetros da costa brasileira, a fim de fazer uma reportagem.

Embarquei na corveta Angostura e partimos do Rio de Janeiro. À noite, porém, quando já estávamos em alto-mar, começou a soprar um forte vento noroeste, um dos piores naquela rota, e enfrentamos mar agitado. O barco corcoveava qual potro selvagem em dia de rodeio. Até o capitão ficou mareado. E eu, marinheiro de primeira viagem, não conseguia dormir nem segurar nada no estômago.

Ao me lembrar dessa viagem, imagino Jonas, em situação semelhante, talvez pior, dormindo profundamente no porão do navio, enquanto os marinheiros se desesperavam na luta contra o mar enfurecido. Como podia ele dormir, enquanto o barco ameaçava afundar? Como podia dormir, se estava desobedecendo a Deus e era o causador daquela tempestade? Estava ele em paz? Certamente que não. A causa do seu sono era bem outra.

Quando Jonas viu os marinheiros pagãos orando e se apegando aos seus deuses, retirou-se e foi procurar um canto onde pudesse dormir, longe da vista de todos. Ele havia estado sob grande tensão mental e ansiedade, e agora precisava relaxar. Sua luta com Deus o deixara exausto a tal ponto, que nem mesmo a tempestade conseguira mantê-lo acordado. Além disso, não queria participar daquele grupo de oração, pois a consciência culpada bloqueia a vontade de orar enquanto não houver arrependimento e confissão. Que cena estranha deve ter sido aquela: homens pagãos orando enquanto o servo de Deus dormia! Mas sua ausência foi notada.

O capitão foi procurá-lo e gritou-lhe: “O que há com você? Se não pode nos ajudar de outra maneira, pelo menos levante-se e peça a ajuda ao seu Deus!”

Que vergonha! Um profeta de Deus, que deveria ter tomado a iniciativa de orar com os marinheiros naquele momento de aperto, é repreendido por um homem pagão que demonstra ter mais fé nos seus deuses, do que Jonas no seu Deus!

Às vezes, os cristãos precisam ser repreendidos pelos mundanos e chamados a cumprir o seu dever: orar, pregar o evangelho e viver segundo a crença que professam.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Estrangeiros e peregrinos

Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Hebreus 11:13

Durante quase quatro anos vivi no exterior. Deitado na cama, num quartinho nos fundos de uma casa em Sydney, Austrália, eu via minha mala, em cima do guarda-roupa.

Para mim, aquele era o símbolo de que eu não viera para ficar. Parece que a mala me dizia: “Você não é daqui! É um estrangeiro, e logo irá embora!” E eu sabia que não devia me demorar muito por lá. Caso contrário, correria o risco de me sentir estrangeiro em meu próprio país, ao voltar.

Essa sensação de transitoriedade leva o forasteiro a não fazer grandes planos para o futuro, numa terra estranha. Ele não se entrega inteiramente ao lugar. Procura não se fixar, pois sabe que dentro de mais algum tempo arrumará as malas, cortará os laços que formou e partirá para sua terra natal.

Entretanto, o desejo de permanência é comum a todos nós. Queremos nos estabelecer, criar raízes. Como cristãos, porém, sabemos que devemos nos sentir neste mundo como Abraão, o qual, “pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb 11:9, 10).

O autor sagrado se referia aos patriarcas, que buscavam pela fé, uma pátria melhor, infinitamente superior àquela que sua peregrinação terrena conseguiria obter. O povo de Israel foi estrangeiro e peregrino, cumprindo assim, a promessa feita a Abraão: “Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão” (Gn 15:13). Davi declarou em oração: “Sou forasteiro à Tua presença, peregrino como todos os meus pais o foram” (Sl 39:12).

A figura do peregrino, do estrangeiro, povoa as páginas da Bíblia, como símbolo da vida do cristão em sua jornada para a Canaã celestial, pois esta não é a nossa pátria. Estamos apenas acampando aqui. Em Cristo, porém, somos cidadãos do reino de Deus: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus” (Ef 2:19).

Os patriarcas, com exceção de Enoque, morreram sem ter obtido as promessas. Mas pela fé as vislumbraram de longe. Hoje, o cristão já pode aguardar o seu cumprimento de perto.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Direita ou esquerda?

O coração do sábio se inclina para o lado direito, mas o do estulto, para o da esquerda. Eclesiastes 10:2

Alguém poderia apressadamente supor que essas palavras de Salomão oferecem apoio bíblico à militância de direita e condenam o esquerdismo. Mas nesse caso seria bom lembrar que o sábio também declara: “Não declines nem para a direita nem para a esquerda” (Pv 4:27).

Salomão não está, aqui, falando de política, mas de filosofia de vida, usando uma linguagem poética para destacar a diferença entre a mente de um sábio e a de um tolo.

Na Bíblia, o lado direito é considerado o lado da honra, da proteção, do poder, enquanto o lado esquerdo é o lado do mal, da desgraça: “O Senhor, tenho-O sempre à minha presença; estando Ele à minha direita, não serei abalado” (Sl 16:8). Quando Jesus voltar, “porá as ovelhas à Sua direita, mas os cabritos, à esquerda” (Mt 25:33).

Quando as coisas não vão bem, no dia, costumamos dizer: “Hoje levantei com o pé esquerdo.” Em algumas culturas orientais a mão esquerda é considerada imunda, pois é a mão com a qual se faz a higiene pessoal.

Esse contraste entre a mão direita e a esquerda provavelmente se originou no fato de que a mão direita de uma pessoa é geralmente mais habilidosa na realização de tarefas manuais, embora a Bíblia refira o caso de setecentos homens canhotos, os quais tinham tanta pontaria, que “atiravam com a funda uma pedra num cabelo e não erravam” (Jz 20:16).

Quanto ao coração, os antigos hebreus o consideravam como o centro das emoções, pensamentos e inteligência. Assim sendo, o que Salomão queria dizer, em linguagem moderna, seria o seguinte: “A mente do homem sábio o leva a fazer o que é certo; a mente do tolo o leva a fazer o que é errado.”

Nosso coração precisa estar em paz com Deus, o que significa ter uma espiritualidade autêntica, e não superficial ou hipócrita. Embora os homens possam ser “ímpios de coração” (Jó 36:13), tenham “coração orgulhoso” (Pv 21:4), “perverso coração de incredulidade” (Hb 3:12), “coração rebelde e contumaz” (Jr 5:23) e “ídolos dentro do seu coração” (Ez 14:3), ainda assim Deus pode lhes dar um “coração de carne”, um “coração novo” (Ez 11:19, 18:31), tornando-os uma “nova criatura” (2Co 5:17).

Vamos pedir que Cristo habite hoje, em nosso coração, pela fé (Ef 3:17), e que Deus esteja à nossa direita, para não sermos abalados por nada deste mundo.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Formado na escola da vida

E Moisés foi educado em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em palavras e obras. Atos 7:22

Virgínia conseguira, com muito esforço, concluir os estudos em uma universidade federal. Agora estava casada e com dois filhos pequenos.

Um dia, cansada dos afazeres domésticos, desabafou para o marido: “Eu não estudei tanto na vida só para pendurar meu diploma na parede e ficar em casa lavando e trocando fraldas!”

É uma frustração compreensível, que Moisés, o grande líder do povo de Deus, também deve ter sentido. Ele havia estudado na Universidade Federal do Egito até os quarenta anos de idade, abeberando-se de tudo o que a cultura egípcia da época podia lhe oferecer. “Na corte de Faraó, Moisés recebeu o mais elevado ensino civil e militar” (Patriarcas e Profetas, p. 245). Julgava-se preparado para liderar o povo de Israel e libertá-lo pela força das armas.

Porém, Moisés estava enganado, pois quando pensou que havia chegado o momento de colocar em prática tudo o que havia aprendido, Deus lhe disse: “Agora você vai para o deserto, cuidar de animais e desaprender toda a cultura inútil que os egípcios lhe puseram na cabeça.” E esse “desaprendizado” duraria outros 40 anos! Não deve ter sido fácil.

Deixando o palácio real, com o seu luxo e prazeres, Moisés fugiu para o deserto da Arábia. Lá, em meio à solidão, ele deve ter pensado muitas vezes: “Foi para isto que estudei tanto na melhor universidade do mundo? Para cuidar de rebanhos?”

Deus, no entanto, lhe estava ensinando uma matéria que ele não havia aprendido no Egito – mansidão. E só após quarenta anos Deus o considerou “diplomado” para liderar o povo de Israel. Moisés havia se tornado “mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a Terra” (Nm 12:3).

É certo que Deus usa pessoas com preparo acadêmico, como usou o apóstolo Paulo. Mas há casos em que essa cultura precisa ser desaprendida, redirecionada ou complementada pela experiência, na escola da abnegação.

Se Moisés tivesse escolhido ser chamado “filho da filha de Faraó”, e herdado o trono do Egito, seria hoje uma múmia. Mas preferindo “ser maltratado junto com o povo de Deus” (Hb 11:24, 25), desceu à sepultura por pouco tempo, pois o próprio Cristo o ressuscitou, levando-o para o Céu.

A escolha ao lado de Deus, mesmo que envolva sofrimento, é sempre melhor do que qualquer herança terrestre.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A morte do pardal

Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai. Mateus 10:29

Em meus tempos de criança, quase todos os garotos de minha idade tinham estilingue e caçavam passarinhos nas ruas da cidade. E contavam façanhas que me deixavam extasiado. Um deles disse, certa vez, que havia acertado uma pedrada num passarinho em pleno voo, derrubando-o.

Um dia, cansado de não ter o que contar consegui o material necessário – uma forquilha, um par de borrachas e um pedaço de couro – e fabriquei meu próprio estilingue. Pendurei-o ao pescoço, conforme o costume, passei a andar com os bolsos cheios de pedras, e comecei a praticar “tiro ao alvo” em latas velhas no fundo do quintal.

Uma tarde vi um pardal pousado no alto de uma goiabeira. Era um alvo perfeito. Apanhei o estilingue, coloquei-lhe uma pedra e esgueirei-me por baixo da árvore. Fiz pontaria e disparei. A pedra acertou o pardal com um barulho surdo. O bicho ficou pendurado por uma perna, no galho, e então caiu ao chão, morto.

Finalmente eu tinha o que contar aos colegas. Agora eu pertencia ao grupo dos atiradores. Mas quando ergui do chão o pardal, um pingo de sangue manchou-me a mão. Isto me deixou horrorizado. Eu, com as mãos sujas de sangue!

O sabor da vitória não havia durado um minuto. E dera lugar a uma estranha sensação – eu agora me sentia um assassino. Imediatamente procurei abafar a voz da consciência, dizendo a mim mesmo: “Mas que bobagem! Um pardal não vale nada. Isso é praga! Talvez eu até tenha feito um favor.” Entretanto, a imagem de minhas mãos sujas de sangue acompanhou-me por muito tempo.

No tempo de Cristo vendiam-se passarinhos por uma quantia ínfima, provavelmente para serem comidos ou oferecidos em sacrifícios (caso de rolinhas e pombos, oferecidos por pessoas pobres).

Há pelo menos duas lições que o texto de hoje nos ensina: a primeira contraria frontalmente o ensino deísta de que Deus existe, mas não Se importa com Sua criação. Ele Se importa, sim, até mesmo com um pardal que cai ao chão. E a lição maior, dada por Jesus é: “Não temais, pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais” (v. 31).

Valemos muito, mas temos que admitir que nossas mãos estão manchadas de sangue – não de um pardal, mas do Cordeiro de Deus, que deu a vida para nos salvar.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Você não pode mudar

Pode, acaso, o etíope mudar a sua pele ou o leopardo, as suas manchas? Então, poderíeis fazer o bem, estando acostumados a fazer o mal. Jeremias 13:23

O escritor Mark Leyner escreveu certa vez um artigo no qual perguntou: “Pode uma pessoa realmente mudar?” E ele próprio respondeu: “Não. Não existe tal coisa como um homem transformado.”

De certo modo, Mark Leyner tem razão. Você e eu não podemos mudar. E quando a pessoa não quer mudar, ela não muda, mesmo que “ressuscite alguém dentre os mortos” (Lc 16:31). Quando Lázaro foi ressuscitado por Jesus, os principais sacerdotes resolveram matar, não só Jesus, mas também Lázaro (Jo 11:53; 12:10).

Nicodemos também pensava assim: se você é judeu, é judeu; se é gentio, é gentio. Nada pode mudar isso. Mas o que Jesus queria ensinar a esse fariseu sincero, é que os sinais e milagres que Ele operava não eram tão importantes como a mudança do coração do homem, que só poderiam ser descritas como um novo nascimento.

A mudança que se opera em nós, quando aceitamos o evangelho, não é produto deste mundo ou de esforço pessoal. Eu não posso mudar, assim como não pode o etíope mudar a sua cor, nem o leopardo as suas manchas. Mas o que Mark Leyner não conseguia entender, o apóstolo Paulo entendia. Quando permito a operação do Espírito de Deus em mim, Deus muda meu coração, e “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl 2:20).

O famoso pianista judeu, Arthur Rubinstein, foi certa vez entrevistado na televisão por Golda Meir, que na ocasião era primeira-ministra de Israel. Em determinado momento, ela lhe perguntou: “Mencione o maior evento de sua vida.” Rubinstein respondeu: “Foi quando aceitei, em meu coração, a Jesus, o Messias. Desde então minha vida mudou, e passei a desfrutar alegria e paz.”

Golda Meir não esperava essa resposta, e recostou-se em sua cadeira com uma expressão de espanto.

Pelo poder de Deus “homens e mulheres têm quebrado a cadeia do hábito pecaminoso. Têm renunciado ao egoísmo. O profano tem-se tornado reverente; o bêbado, sóbrio; o pervertido, puro. Pessoas que tinham a semelhança de Satanás, transformaram-se na imagem de Deus. Essa transformação é em si mesma o milagre dos milagres” (Educação, p. 172).

Se você não acredita nisso, pergunte a Maria Madalena, a Mateus, Paulo, Pedro, ou a alguém que você conhece pessoalmente. A prova de um verdadeiro encontro com Cristo é sempre uma vida transformada.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Quando a vida é vaidade

Vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade. Eclesiastes 1:2

Permitam-me apresentar-lhes a pessoa mais fascinante, mais maravilhosa, mais invejada que conheço – EU! Eu sou o maioral, o mais sábio, rico, famoso, o que tem mais empregados e mais mulheres do que qualquer outro que já viveu antes de mim. Eu sou Salomão!

Em apenas 15 versos (Ec 2:1-15) Salomão se refere a si mesmo 46 vezes, através de pronomes pessoais, possessivos e verbos na primeira pessoa. Aqui está Salomão em toda a sua glória. Ele reside num palácio que é a joia do oriente, com piscinas, jardins, estábulos, ouro, prata, cantores, servos, e vive num ambiente de cultura, arte, música e diversão. Empreende grandes obras, que dão emprego a milhares de pessoas. Tudo quanto seus olhos desejam ele torna realidade com um estalar de dedos.
E para completar, ele afirma: “Perseverou também comigo a minha sabedoria” (v. 9). Para resumir: ele tinha tudo!

Tudo mesmo? Tudo, menos satisfação. Esta era a única coisa que lhe faltava. Ele confessa sua frustração nas seguintes palavras: “Pelo que aborreci a vida, pois me foi penosa a obra que se faz debaixo do Sol; sim, tudo é vaidade e correr atrás do vento” (v. 17).

Você conhece pessoas assim? Que têm tudo, mas são infelizes? Provavelmente sim, pois multidões ao nosso redor estão correndo atrás da riqueza e da fama, e quando conseguem isso, descobrem que estiveram correndo atrás do vento. Por isso é que o livro do Eclesiastes é incrivelmente moderno. Vejam o caso de Boris Becker, o tenista que foi duas vezes campeão em Wimbledon e ficou rico e famoso. Mas confessou que não tinha paz, e que esteve à beira do suicídio.

Becker não é o único a sentir esse vazio interior. Milhares de pessoas que chegaram ao topo de sua carreira profissional descobriram que não há nada lá. Só um vazio imenso. Um vazio que só Deus pode preencher. E esta é exatamente a mensagem do Eclesiastes – a vida sem Deus não tem sentido.

Mas há um raio de esperança nesse livro, que aponta para uma dimensão infinita, dentro de nós, e que não combina com a conclusão de que tudo é vaidade: “Tudo fez Deus formoso no seu devido tempo; também pôs a eternidade no coração do homem” (Ec 3:11).

Depois de mostrar que riquezas, educação, realizações, fama, sexo não trazem paz e felicidade, Salomão revela que Deus colocou no ser humano o desejo de viver para sempre.
O vazio infinito do coração humano só pode ser preenchido com algo também infinito – Deus e Seu amor.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Autoridade sem tirania

Toda a autoridade Me foi dada no céu e na Terra. Mateus 28:18

Há algumas décadas o mundo se horrorizou diante das atrocidades cometidas por Adolf Hitler. Idi Amin massacrou cerca de 300 mil ugandenses. O rei Bokassa, à semelhança de Herodes, mandou matar crianças. Pol Pot, Baby Doc, Ferdinand Marcus, Pinochet são outros nomes bem conhecidos, mostrando que a tirania continua viva e ativa, fazendo manchetes e vítimas.

Esses exemplos mostram que os regimes absolutistas não são os melhores, pois concentram demasiado poder nas mãos de um só homem. E se o poder por si só já corrompe, não é difícil imaginar o que acontece quando um indivíduo já corrupto tem poder absoluto.

Entretanto, é preciso lembrar que nem todos os tiranos estão assentados no trono de uma nação. Muitos exercem sua tirania em escalões inferiores: em nível de estado, de município, na presidência de empresas, na chefia de seções, no próprio lar, e onde quer que possam exercer seu autoritarismo, praticar arbitrariedades e oprimir os que se acham sob seu comando.

Certa vez, Ellen White enviou dura mensagem ao presidente da Associação Geral, o pastor A. G. Daniells, dizendo-lhe que ele possuía um espírito dominador sobre os irmãos, em questões administrativas, não lhes dando liberdade de pensamento e expressão a que tinham direito. O Pastor Daniells, após avaliar e refletir sobre sua conduta, reconheceu e confessou o fato diante de Deus e passou a vigiar-se constantemente contra todo e qualquer espírito dominador.

Conta-se que um irlandês foi promovido a chefe de seção de uma fábrica. Na manhã seguinte, a primeira coisa que fez foi reunir os funcionários sob seu comando. Então, chamou um deles: “Timóteo, venha cá!” Quando o homem se aproximou, o novo chefe lhe disse: “Timóteo, você está despedido! Não que eu tenha alguma coisa contra você, mas isto é para mostrar que eu agora tenho autoridade.”

A autoridade motivada pelo desejo de poder conduz à tirania, e submete, pela força, os que lhe estão sujeitos. Mas a autoridade cristã deriva do amor, não do poder. Jesus disse: “Toda a autoridade Me foi dada no céu e na Terra” (Mt 28:18). E essa autoridade Ele a exerce com amor. Nosso modelo de liderança, portanto, é Cristo. É nEle que devem se espelhar os líderes, sejam eles presidentes, governadores, diretores, chefes ou pais.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Que tipo de Céu?

Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam. 1 Coríntios 2:9

Os saduceus não acreditavam na ressurreição, e um dia, tentaram armar uma cilada para Jesus, apresentando-lhe o caso absurdo de uma mulher que teria desposado sete irmãos (ver Mt 22:23-33). Eles já haviam silenciado os fariseus com esse argumento, e pensavam que poderiam repetir a façanha com Jesus. Seu propósito era demonstrar que a ressurreição era uma ideia ridícula, pois a qual dos sete maridos pertenceria ela quando todos ressuscitassem?

Para os fariseus o problema não tinha solução. Mas Jesus não Se deixou intimidar e respondeu aos intelectuais da época que eles não conheciam as Escrituras, pois estas apresentam relatos de ressurreições (1Rs 17:20-23; 2Rs 4:34-37; 13:20, 21), nem o poder de Deus, que pode resolver todas as situações, por mais complicadas que sejam.

Os saduceus erravam ao imaginar o Céu como uma continuação melhorada da vida na Terra. Os homens geralmente pensam assim, pois não têm ideia do que Deus está preparando para aqueles que O amam. Os índios peles-vermelhas, que eram caçadores por natureza, imaginavam o Céu como um lugar de caça abundante. Os vikings, que eram um povo guerreiro, pensavam no Valhalla (a morada dos heróis mortos), onde lutariam o dia todo e beberiam vinho no oco do crânio de seus inimigos. Os muçulmanos, que viviam originalmente no deserto, onde não havia sensualismo, ainda hoje concebem o Céu como uma espécie de harém, onde todos os desejos sexuais serão satisfeitos. Por outro lado, muitos cristãos imaginam o Céu como um lugar tedioso, em que os remidos passarão a eternidade sentados numa nuvem, tocando harpa.

Nada mais distante da realidade futura. Aqueles que têm ou tiveram um casamento feliz, neste mundo, poderão ficar frustrados ao pensar que no Céu não haverá relacionamento conjugal, mas seremos todos “como anjos”. Outros podem achar que se não houver sexo, não terá graça.

Entretanto, como diz Ellen White, não “devemos medir as condições da vida futura pelas condições desta vida” (Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 173).

Pela fé, podemos ter a certeza de que Deus está preparando para aqueles que O amam um tipo de relacionamento infinitamente superior ao do mais feliz dos casamentos. Porque o Céu é um lugar onde a felicidade é total. E permanente.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A um passo do abismo

Quanto a mim, porém, quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos. Salmo 73:2

Peter Marshall, famoso pastor presbiteriano escocês, falecido em 1949, conta que, quando jovem, passou um verão trabalhando em Bamburgh, uma cidadezinha da Inglaterra. Numa noite escura e sem estrelas, ao voltar de uma aldeia vizinha, ele se perdeu em meio aos pântanos, ao procurar um atalho. “Sabia haver uma jazida de calcáreo funda e abandonada perto de Glororum Road, mas achava que podia evitar o lugar perigoso.

“Repentinamente ouviu alguém chamar: ‘Peter!’ Havia urgência na voz. Parou para responder: ‘Sim, quem é? O que quer?’

“Durante um segundo esperou a resposta, mas só o som do vento lhe respondia. O pântano parecia deserto. Julgando que se tivesse enganado, andou mais alguns passos. Então ouviu com mais urgência ainda: ‘Peter!’

“Parou imediatamente, imóvel, tentando vislumbrar alguma coisa naquela escuridão impenetrável; contudo, repentinamente, tropeçou e caiu de joelhos. Estendendo a mão para se levantar, não encontrou nada. Investigou cuidadosamente, passando a mão em semicírculo ao redor de si, e descobriu que estava bem na beira da pedreira abandonada. Mais um passo, e cairia no abismo, voando para a morte certa.”

Peter Marshall afirma que “nunca houve em sua mente dúvida quanto à origem daquela Voz. Sentiu que Deus deveria ter um grande alvo para sua vida, para intervir assim tão claramente” (Para Todo o Sempre, p. 24, 25).

O salmista Asafe conta, no Salmo 73, que correu um risco semelhante em sua vida espiritual, ao ver a prosperidade dos ímpios. Ele esteve à beira da incredulidade, pouco faltando “para que se desviassem os seus passos”. E como é que Asafe escapou da tragédia? A resposta está no verso 17: “Até que entrei no santuário de Deus”. Ali ele teve um vislumbre da final destruição dos maus. Percebeu, uma vez mais, que os problemas da vida só podem ser solucionados através da comunhão com Deus.

É possível que você, também, já tenha se perdido em meio aos pântanos desta vida e chegado à beira do abismo. Talvez ainda sinta, de vez em quando, o desejo de “jogar tudo para o alto” e “sumir do mapa”.

Não deixe seus pés resvalarem. Siga o exemplo de Asafe. Entre no santuário de Deus e ouça-Lhe a voz, chamando-o pelo nome. Ele tem grandes planos para você.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Prostitutas no reino de Deus?

Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus. Mateus 21:31

No tempo de Cristo publicanos e meretrizes eram desprezados pela sociedade, especialmente pelos fariseus. Os publicanos, ou cobradores de impostos, eram considerados como estando além da possibilidade de arrependimento, o que os excluía totalmente da salvação.

As meretrizes estavam mais ou menos no mesmo nível, pois a lei de Moisés estabelecia penas severas para as praticantes (Lv 21:9, Dt 22:21).

Agora imagine o espanto e a ira dos fariseus – tidos como exemplos de moralidade – ao ouvirem Jesus dizer que essas duas classes abominadas entrariam no Céu antes deles! Estaria Cristo elogiando os pecadores e condenando os observadores e intérpretes da Lei?

O significado desta parábola é claro: Jesus não está prometendo a salvação nem aos fariseus cheios de justiça própria, nem aos pecadores impenitentes. Ele não está elogiando ninguém aqui; está apenas dizendo que um grupo é menos pior do que o outro. Vejam: os versos precedentes falam de dois filhos: um prometeu ao pai que iria trabalhar na sua vinha, mas não foi. O outro disse que não iria, mas foi.

O primeiro representa os líderes judaicos, que não creram na pregação de João Batista nem aceitaram a mensagem de Jesus. Cumpriam com exatidão e zelo os ritos e cerimônias, mas rejeitavam a verdade, deixando assim de fazer a vontade de Deus. E Jesus deixou claro que sua desobediência lhes impediria a entrada no reino de Deus.

Assim como na parábola nenhum dos dois filhos trouxe satisfação completa ao seu pai, Jesus quis ensinar também que nem os fariseus nem os publicanos e meretrizes representavam o grupo ideal. Os fariseus, porque diziam e não faziam (Mt 23:3). E palavras belas e piedosas não são substituto para boas ações. Os publicanos e meretrizes também não representavam o filho ideal, pois eram materialistas e mundanos, embora suas ações fossem, às vezes, mais piedosas do que as de muitos seguidores de Jesus. O filho ideal é aquele cuja profissão de fé é coerente com a prática. É o que diz e faz. É esse que traz alegria completa ao Pai.

Mas, é importante frisar que no reino de Deus encontraremos fariseus como Nicodemos, prostitutas como Raabe, e publicanos como Zaqueu. Todos convertidos e salvos pela fé em Jesus.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Causa e efeito

Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará. Gálatas 6:7

Todos sabem, quer sejam agricultores ou não, que só se pode colher aquilo que foi semeado. A semente que se lança na terra determina o tipo de planta que nascerá. Às vezes, a gente planta milho e não colhe nada, por falta de chuva ou devido a outro problema. Mas o que nunca vai acontecer é se plantar milho e colher soja, por exemplo.

O mesmo ocorre na vida social, conjugal, financeira, física e espiritual. Nossa vida é o resultado de nossas decisões e ações, e não um jogo, em que fazemos o que bem entendemos, esperando que no fim tudo dê certo. Deus criou leis de causa e efeito que controlam a existência. E o resultado não depende do acaso. É consequência do que decidimos e fazemos. Vou dar um exemplo trágico, através da carta que um amigo me escreveu:

“Rubem, tenho uma má notícia para dar. Fumar por tantos anos finalmente produziu um resultado sobre mim: desenvolvi um câncer de língua (entre outros) que só um transplante de pescoço poderia ajudar. Infelizmente o problema não é operável, mas fique tranquilo que eu aceito isto como o resultado de muitos anos de agressão a meu próprio corpo. Não estou desesperado, nem deprimido, e até agradecido a Deus por me estar dando uma chance de terminar uma ou outra coisinha em minha vida. Venho sentindo muita dor que é controlada e aliviada com codeína, a segunda droga analgésica mais poderosa que existe. Já há muito tempo não consigo engolir nada sólido – apenas bebo vitaminas e sopas, e até agora quase consegui manter meu peso.

“Inicio na semana que vem algumas sessões de quimioterapia que deverão me ajudar quanto à dor e me permitir adiar o inevitável por mais algum tempo. Muito obrigado por sua amizade, e se rezar por mim, peça a Deus para me dar muita força para enfrentar o fim com coragem e dignidade.”

Esta carta, de meu amigo Gabriel, me comoveu, bem como a notícia de seu falecimento, um mês depois. E ilustra esta verdade bíblica: o que o homem semear, isso também ceifará. Ou seja: nós temos de arcar com as consequências de nossos atos e decisões. É verdade que Deus perdoa nossos erros, quando nos arrependemos, mas Ele geralmente não remove as consequências.

Vamos pedir a Deus que ilumine nossas decisões neste dia, para que colhamos saúde e vida abundante.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Hoje é o dia

Vê que proponho, hoje, a vida e o bem, a morte e o mal. Deuteronômio 30:15

“Ligue já!” “Peça hoje mesmo o seu.” “Compre agora.” Através de anúncios com esse tom de urgência, somos instados a comprar, ver, viajar e desfrutar imediatamente os produtos ou serviços oferecidos. Os vendedores sabem que quando um comprador em potencial adia a sua decisão de adquirir algo, as possibilidades de fechar o negócio se reduzem drasticamente.

Em outros aspectos da vida verifica-se o mesmo fato: a pessoa que resolve abandonar um vício, mas não já, está condenando sua decisão ao fracasso. O Pastor Siegfried J. Schwantes já dizia: “Quanto maior o intervalo entre a resolução e a sua execução, tanto menor a probabilidade de êxito” (Colunas do Caráter, p. 34).

Uma das maiores tragédias da natureza humana, é que todos nós nos sentimos propensos a adiar o tempo para a tomada de decisões. A criança diz: “Quando eu crescer...” O rapazinho diz: “Quando eu casar...” Depois a frase muda: “Quando eu me aposentar...” E, assim, não decide nunca.

Mas quando chega a aposentadoria, o indivíduo olha para trás, para o caminho percorrido, e sente um vento gelado na alma. Depois de passar a vida inteira preocupado com o futuro, ele agora pensa no passado. E só então descobre que desperdiçou a vida. Porque vida real é aquela vivida no presente – cada momento, cada hora, cada dia.

O mesmo se dá com a vida espiritual. Deixar para amanhã o preparo espiritual é arriscado, porque ninguém sabe se estará vivo amanhã. O dia da salvação é hoje. Notem o tom de urgência do apóstolo Paulo: “Assim, pois, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a Sua voz, não endureçais o vosso coração” (Hb 3:7, 8). E dentro do dia de hoje, há um momento ainda mais específico: “Eis agora o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação” (2Co 6:2). A salvação e a vida eterna começam, portanto, aqui, agora, e não depois, em outro tempo ou lugar.

Porém, alguém poderá dizer: “Mas eu já aceitei a salvação. Já sou batizado há 20 anos!” Acontece que a salvação não é assunto do passado. É do presente. É preciso converter-se diariamente.

O profeta Elias obteve uma estrondosa vitória em um dia – vitória sobre os adoradores de Baal, no Monte Carmelo – para, no dia seguinte, sofrer uma vergonhosa derrota, fugindo de uma mulher pagã. No dia anterior Elias havia confiado em Deus sem reservas. E Deus lhe deu a vitória. No dia seguinte ele não fez o devido preparo espiritual e foi derrotado.
Por isso, peça a graça de Deus para o dia de hoje. Converta-se hoje. Esteja salvo hoje.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Ladrões

Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a terra, onde a traça e a ferrugem corroem e onde ladrões escavam e roubam. Mateus 6:19

À medida que este velho mundo se encaminha para seu fim e os homens maus vão de mal a pior, vai também se reduzindo o número de pessoas que ainda não passaram pela desagradável experiência de serem roubadas.

Se há uma classe universal, essa é a dos ladrões, pois não há país que não os tenha. A diferença está na maneira como são tratados aqui e em outros lugares. Em países onde o roubo é severamente punido, sua incidência é menor. Onde há impunidade, os ladrões se multiplicam e se tornam cada vez mais ousados. Salomão já dizia: “Visto como se não executa logo a sentença sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto a praticar o mal” (Ec 8:11).

A legislação mosaica era bastante severa com os ladrões: se alguém furtasse um boi ou ovelha, deveria restituí-los em dobro (Êx 22:4). Se, porém, o abatesse ou vendesse, por um boi pagaria “cinco bois, e quatro ovelhas por uma ovelha” (Êx 22:1). O princípio geral estabelecido aqui é que o roubo deveria ser punido, sempre que possível, através de uma multa.

Mas a legislação da época também contemplava os casos de roubo seguido de morte. Se um ladrão fosse morto ao tentar arrombar uma casa à noite, quem o ferisse não seria culpado, pois se pressupunha que um ladrão que atacasse à noite poderia abrigar intenções homicidas para obter o que quisesse. Se, porém, atacasse durante o dia, não seria considerado um homicida em potencial, e não deveria ser morto (Êx 22:2, 3). Se isso acontecesse, o que o feriu seria acusado de “homicídio doloso”, para usar um termo moderno.

A lei, portanto, protegia a propriedade, ao mesmo tempo que procurava proteger a vida do próprio ladrão, evitando derramamento desnecessário de sangue.

Séculos mais tarde Cristo deu às coisas materiais a sua dimensão correta, ao aconselhar-nos a não depositar nosso tesouro naquilo que pode se estragar ou ser roubado. Não há segurança nos bens materiais. A felicidade dos seres humanos não deve depender de suas propriedades ou conta bancária.

Segundo Jesus, o homem sábio é aquele que constrói sua felicidade em tesouros permanentes, os quais jamais poderá perder. Daí o conselho: “Mas ajuntai para vós outros tesouros no Céu, onde traça nem ferrugem corrói, e onde ladrões não escavam, nem roubam” (Mt 6:20).

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Agressão injusta

Replicou-lhe Jesus: Se falei mal, dá testemunho do mal; mas, se falei bem, por que Me feres? João 18:23

Jesus estava perante Anás e acabara de levar uma bofetada de um dos guardas, porque este não gostou da resposta que Cristo dera ao sumo sacerdote. Nessa ocasião, Cristo não ofereceu a outra face, como havia recomendado anteriormente a Seus ouvintes, no Sermão do Monte (ver Mt 5:39; Lc 6:29). Mas também não perdeu o controle nem Se deixou arrebatar pela ira.

Entretanto, por Suas palavras mostrou que há momentos em que o cristão deve protestar, da maneira correta, contra a violência e o abuso de autoridade. Se aceitar passivamente a agressão, estará dando a entender que a merece, e ao mesmo tempo incentivará a perversidade. Ele deve se opor a isso com base na lei.

Foi o que Cristo fez. Segundo a lei judaica, um prisioneiro só poderia ser maltratado fisicamente após sua condenação. E esse episódio foi apenas uma das muitas irregularidades do julgamento de Cristo.

O apóstolo Paulo passou por experiência semelhante: levou uma bofetada na boca por insinuar que o Sinédrio era hipócrita. Paulo dissera que havia “andado diante de Deus com toda a boa consciência” (At 23:1). Sua conduta havia sido irrepreensível, tanto na observância da vontade de Deus como da lei e dos escritos dos profetas (At 24:14). Se Paulo estava certo, era óbvio que seus acusadores estavam errados. Eles entenderam o recado. Como resultado, “o sumo sacerdote, Ananias, mandou aos que estavam perto dele que lhe batessem na boca” (At 23:2).

Paulo reagiu dizendo: “Deus há de ferir-te, parede branqueada! Tu estás aí sentado para julgar-me segundo a lei e, contra a lei, mandas agredir-me?” (v. 3).

Em outra ocasião, Paulo estava sendo amarrado para ser açoitado, quando perguntou ao centurião presente: “Ser-vos-á, porventura, lícito açoitar um cidadão romano, sem estar condenado?” (At 22:25). Ao invocar seus direitos como cidadão romano, Paulo evitou sofrimento desnecessário.

O cristão não deve se deixar espancar, se puder evitá-lo. Ele tem todo o direito de invocar a lei em seu favor. Não adquirimos méritos para a salvação através de maus tratos, penitências ou sofrimentos. É verdade que alguns de nós seremos chamados a participar dos sofrimentos de Cristo, como prova de nossa fé. Mas o que nos salva é a fé, e não o sofrimento.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Medo de Deus

Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Apocalipse 3:19

Morávamos numa casa de madeira. Em uma noite tempestuosa, minha mãe me repreendeu por alguma travessura e me advertiu dizendo:

– Se você desobedecer, Deus vai castigá-lo!

Sua ameaça, porém, não surtiu o efeito desejado. Eu devia ter quatro ou cinco anos de idade, e imaginava que Deus estava muito distante para me castigar fisicamente. Por isso, perguntei-lhe em tom desafiador:

– E como é que Ele pode me castigar?

Nesse exato momento, como que em resposta ao meu desafio, um trovão ensurdecedor fez a casa toda estremecer.

Pálida de susto, minha mãe apontou para mim e disse:

– Viu só? Viu como Ele pode castigá-lo?

Mudo de terror, não tive como contestar sua afirmação. E fiquei convencido de que, apesar da distância, Deus poderia alcançar-me aqui embaixo com os Seus raios e trovões, se quisesse. Essa experiência me acompanhou até a idade adulta, fazendo-me pensar que Deus às vezes age como um ser bravo, que castiga criancinhas e adultos desobedientes.

Deus tem emoções. Ele ama, respeita, Se ofende, Se regozija, Se entristece, sente compaixão. E Se ira também. Na Bíblia encontramos várias referências, tanto a um Deus que ama como a um Deus que Se ira e castiga: Dois exemplos:
“Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (1Jo 4:8).
“O Senhor é Deus zeloso e vingador, o Senhor é vingador e cheio de ira; o Senhor toma vingança contra os Seus adversários e reserva indignação para os Seus inimigos” (Na 1:2).


Podemos harmonizar esses dois sentimentos no mesmo Deus? Um Deus que ama, mas também Se ira e castiga? Sim, pois o amor e a ira não são sentimentos opostos: são complementares. Somente quem ama de verdade pode experimentar genuína ira. O pai que ama extremosamente o filho será tomado de grande ira ao vê-lo maltratado e abusado por outros, e fará tudo que estiver ao seu alcance para livrá-lo dos malfeitores. Assim também Deus: como Pai amoroso que é, Ele não pode contemplar a ação do mal contra Seus filhos sem irar-Se.

Por isso, Ele muitas vezes pune nossos inimigos a fim de proteger-nos de sua crueldade. E disciplina também a nós, a fim de nos corrigir e levar-nos a mudar o rumo de nossa vida. Quando compreendemos que Deus é amor, não mais sentimos medo dEle, sabendo que Ele nos ama e quer o nosso bem.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Coincidência ou providência?

Tudo depende do tempo e do acaso. Eclesiastes 9:11

Eugene Durand, que foi editorialista da Review and Herald, narra uma série de coincidências na sua vida e na de seu amigo de infância, Tom Green. Ambos se criaram na mesma igreja adventista e foram batizados pelo mesmo pastor. Uma vez recoltaram juntos após cada um ter comprado seu primeiro carro. Sem que tivessem planejado, casaram-se no mesmo dia. Depois de se formarem juntos em Teologia, tornaram-se pastores distritais da mesma Associação.

Alguns anos mais tarde, suas esposas tiveram bebês do sexo feminino, no mesmo dia, e as duas receberam o mesmo nome – novamente, sem que eles houvessem combinado. Doze anos depois, após terem ficado separados por milhares de quilômetros, Eugene se mudou para uma casa, apenas para descobrir que Tom morava quatro casas adiante, na mesma rua, já que agora ambos eram obreiros da mesma União. E Eugene termina dizendo: “Eu agora sou membro de uma igreja que fica a 45 milhas de distância, e que por acaso, foi Tom quem construiu!”

As coincidências ou casualidades têm intrigado as pessoas desde os tempos antigos. Os matemáticos alegam que muitos desses estranhos eventos podem ser atribuídos à Lei das Probabilidades. Mas, mesmo os cientistas acreditam que nem tudo pode ser explicado por essa lei.

Coincidência ou providência divina? Podemos estabelecer a diferença? O sábio Salomão reconheceu a existência do acaso, quando escreveu que “tudo depende do tempo e do acaso”.

Jesus, ao relatar a parábola do Bom Samaritano, usou, em Lucas 10:31, praticamente a mesma palavra que Salomão, ao dizer: “Casualmente, descia um sacerdote por aquele mesmo caminho.” Ou seja: nada havia sido combinado, planejado ou predeterminado.

Rute havia retornado da terra de Moabe com sua sogra Noemi. Ao procurar trabalho nos campos de cevada, “por casualidade entrou na parte que pertencia a Boaz” (Rt 2:3). Toda a história de Rute gira em torno dessa casualidade. Se ela tivesse entrado em outro campo, não só a história de sua vida, mas a própria história da humanidade teria sido diferente, pois, graças àquela casualidade, Rute se tornou ancestral de Cristo.

Existe casualidade, coincidência, Lei das Probabilidades e também providência divina, esta última muitas vezes operando através de todas essas circunstâncias, pois Deus gosta de operar no anonimato, por meios que parecem casuais. Lembremo-nos de que “o complicado jogo dos acontecimentos humanos acha-se sob a direção divina” (Educação, p. 178).

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Ansiedade

Não andeis ansiosos de coisa alguma. Filipenses 4:6

Um dia, fui para o trabalho deprimido e preocupado com o futuro. Não conseguindo concentrar-me em minha tarefa, orei a Deus pedindo-lhe que me ajudasse. Então retornei ao livro que estava revisando.

Ao virar a página, meus olhos caíram diretamente sobre este texto de Paulo: “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graças” (Fp 4:6).

Não tive dúvida de que era a resposta divina a minha oração. Nem sempre Deus atende às orações tão rapidamente. Às vezes a resposta pode demorar anos, dependendo do caso. Mas as minhas preocupações não podiam esperar. Eu precisava de ajuda imediata, ou não conseguiria trabalhar. E o auxílio veio de pronto, acompanhado da promessa do verso 7: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.”A capacidade de substituir a ansiedade pela confiança em Deus é um dos maiores dons que Deus dá ao crente. Cristo nos ensinou a superar as ansiedades deste mundo, confiando em nosso Pai celestial (ver Mt 6:25-34).

Há cristãos que são pessoas boas, generosas e mesmo amorosas. Mas nunca foram capazes de depositar todas as preocupações nas mãos de Deus e nEle confiar sem reservas. Elas jamais atingiram o nível espiritual de H. G. Spafford, o qual perdeu a casa em um incêndio e duas filhas em um naufrágio.

Apesar dessas tragédias, ele compôs o belo hino:

Se paz, a mais doce, me deres gozar,
Se dor a mais forte sofrer;
Oh, seja o que for, Tu me fazes saber
Que feliz com Jesus hei de estar (HA, nº 230).

O grande pregador Gardner Taylor conta que foi visitar Vernon Jordan após a tentativa de assassinato que este sofreu em 29 de maio de 1980.
Jordan estava se recuperando dos ferimentos que lhe foram infligidos por um franco atirador. Em seu leito de dor ele disse a Taylor algo que lhe havia passado pela mente quando jazia em meio a uma poça de sangue, em uma rua escura de uma cidade estranha. Jordan contou que se viu morrendo e sua vida passou diante dele, mas uma coisa ficou martelando em sua mente ao estar caído ali.

Quando era estudante, morando longe de casa, sua mãe lhe escrevia diariamente. Algumas cartas eram curtas, outras longas. No fim de cada uma ela sempre repetia: “Filho, não se esqueça: se você confiar em Deus, Ele cuidará de você.”

Vamos começar este dia lançando sobre Deus toda a nossa ansiedade.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Tendências hereditárias

Porque Eu sou o Senhor, teu Deus, Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos até à terceira e quarta geração daqueles que Me aborrecem e faço misericórdia até mil gerações daqueles que Me amam e guardam os Meus mandamentos. Êxodo 20:5, 6

Jonathan Edwards viveu de 1703 a 1758 e é considerado um dos maiores teólogos americanos e filósofos do século 18. O pai era pastor, a mãe, filha de pastor, e a esposa, uma mulher devota. Uma pesquisa revelou que entre os seus 1394 descendentes conhecidos, havia 13 reitores de universidades, 65 professores universitários, 3 senadores, 30 juízes, 100 advogados, 60 médicos, 75 oficiais do exército e da marinha, 100 pastores e missionários, 60 escritores, um vice-presidente dos Estados Unidos, 80 funcionários públicos, e 295 tinham formação universitária. Em toda grande empresa americana havia um membro dessa família na diretoria. Seus descendentes jamais custaram um centavo ao Estado.

Os pesquisadores também decidiram analisar a descendência de Max Jukes, que viveu na mesma época. Jukes era ateu, casou-se com uma mulher descrente, não se interessava nem pelo estudo nem pelo trabalho e viveu uma vida desregrada. Os seus 1200 descendentes tinham um registro de pobreza, crime, insanidade e imbecilidade.

Desses, 310 morreram na miséria, 440 tiveram um fim trágico por causa de suas maldades, 60 eram ladrões, 130 foram condenados por crimes diversos, mais da metade das mulheres eram prostitutas, e 7 eram assassinos. Só 20 aprenderam uma profissão, sendo que dez a aprenderam na prisão.

Aqui está o contraste marcante entre essas duas descendências, que demonstram a verdade bíblica de que tanto os bons como os maus traços de caráter são transmitidos aos filhos, netos, bisnetos e trinetos através das leis da hereditariedade. Ellen White confirma este fato dizendo: “Más tendências, apetites pervertidos e moral vil, assim como enfermidades físicas e degeneração, são transmitidos como um legado de pai a filho, até a terceira e quarta geração. Esta terrível verdade deveria ter uma força solene para restringir os homens de seguirem uma conduta de pecado” (Patriarcas e Profetas, p. 306).

Entretanto, ninguém precisa se conformar com uma herança maligna, pensando: “Eu nasci torto e vou morrer torto!” Não. Nenhum de nós precisa ser escravo do seu passado. Todos podemos e devemos “vencer toda tendência hereditária e cultivada para o mal” (O Desejado de Todas as Nações, p. 671).

Como? Submetendo-nos ao Espírito Santo, o divino “agente de regeneração”.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Sem deixar saudades

E se foi sem deixar de si saudades. 2 Crônicas 21:20

Há pessoas de difícil relacionamento, que provocam suspiros de alívio por parte de vizinhos e colegas, ao saírem de circulação. São pessoas infelizes, que espalham infelicidade ao seu redor, e são candidatas a terminar seus dias em solidão, se não mudarem seu estilo de vida antes que seja tarde demais. O mais triste é quando morrem e ninguém lamenta a sua morte.

A Bíblia conta o caso de dois jovens, muito diferentes um do outro. Ambos tinham sangue real e tiveram morte prematura. Um deles, chamado Jeorão, morreu “sem deixar saudades”. Era tão detestado, que ninguém chorou por ele. De Abias, porém, o relato sagrado diz que “todo o Israel o pranteou” (1Rs 14:18). Por que essa diferença?

Jeorão teve um excelente começo na vida, pois teve um bom pai: o rei Josafá, um dos melhores reis de Judá. Mas um bom pai pode ter uma fraqueza. E uma das fraquezas de Josafá era o associar-se com reis ímpios de Israel. Talvez por isto, seu filho Jeorão se casou com a filha de Acabe. E Jeorão fez o que era mau aos olhos do Senhor, porque a filha de Acabe o induziu a isto (ver 2Rs 8:18). Tendo uma sogra como Jezabel, o que mais se poderia esperar! As más companhias corrompem os bons costumes.

Jeorão celebrou sua ascensão ao trono matando todos os seus irmãos (2Cr 21:4). E levou o povo a se inclinar perante ídolos e a participar de atos imorais. Mas no meio de sua carreira de crimes e pecados, Jeorão recebeu uma carta do profeta Elias, dizendo que ele seria castigado com uma enfermidade incurável. Quando chegou a Jerusalém a notícia de que Jeorão estava muito doente, ninguém lamentou. Ninguém orou pedindo sequer um dia a mais de vida para ele. E quando sua morte foi anunciada, ninguém chorou, nem lhe mandou flores como símbolo de pesar. Nem mesmo compareceram ao seu funeral.

Abias, por outro lado, era filho de um dos mais ímpios reis de Israel – Jeroboão. A mãe também não era grande coisa. Ele não teve, portanto um bom começo na vida. Pela lógica, filho de pai ímpio deveria ser ímpio também.

Mas Abias viveu uma vida pura em meio à impiedade de seu lar e da corte. Ele morreu de repente, de morte natural. Tão logo a notícia se espalhou, houve luto geral. A nação inteira o pranteou.

A diferença entre a vida desses dois jovens está no fato de que se achou em Abias “coisa boa para com o Senhor” (1Rs 14:13). E essa coisa boa era algo espiritual. Abias havia permitido a operação do Espírito de Deus em sua vida.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Você não pode ser o melhor em tudo

E bem-aventurado é aquele que não achar em Mim motivo de tropeço. Mateus 11:6

Um dia, no fim de 1969, um jovem entrou na biblioteca da Universidade de Berkeley. Tomado por uma raiva frenética, ele correu pela biblioteca gritando histericamente para os seus colegas: “Parem, parem! Vocês estão passando à minha frente!” O jovem foi preso.

O crime desse moço, segundo a autora Pamela Pettler, foi ter nascido na década errada, pois foi só a partir da década de 80, cheia de estresse, que passamos a nos preocupar com outras pessoas passando à nossa frente. E isso acontece o tempo todo: se um colega de trabalho é promovido, ele passou à sua frente; se um amigo leu um livro que você não leu, ou fez um curso que você não fez, ele passou à sua frente, naquele ramo de conhecimento. O que alguns parecem não aceitar, é que não se pode ser o melhor em tudo.

Há pessoas que não suportam encarar esse fato, especialmente se o indivíduo mais preparado é um subordinado. Um ferramenteiro contou que, na indústria automobilística onde ele trabalhava, um novo chefe assumiu a seção de ferramentaria. E esse chefe não admitia que um empregado seu fosse mais competente do que ele. Quando isso acontecia, ele infernizava a vida e o trabalho desse funcionário, prejudicando-o de mil maneiras.

É preciso ter grandeza pessoal para olhar nos olhos de um rival em potencial e ver nele, não um adversário, mas um amigo. É preciso ter certeza de sua própria capacidade para não se sentir ameaçado por alguém mais brilhante. E é bom lembrar que, um dia, todos nós encontraremos um rival. Qual será, então, a nossa reação?

Nesse aspecto, João Batista nos dá um grande exemplo. Ele estava tendo grande sucesso evangelístico. Multidões afluíam a ele no deserto, para ouvi-lo pregar: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos Céus” (Mt 3:2). E as pessoas se arrependiam, e eram batizadas às centenas.

Então, um dia, enquanto João estava pregando e batizando, Jesus saiu do meio da multidão. E João sabia que Aquele era quem ele havia anunciado, dizendo: “Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas Aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar” (Mt 3:11).

Em vez de ver em Jesus um motivo de tropeço para a sua carreira, João reconheceu-Lhe a superioridade. E Jesus também reconheceu a grandeza de João, dizendo: “Entre os nascidos de mulher, ninguém apareceu maior do que João Batista” (Mt 11:11).

E a grandeza de João residia em se humilhar e exaltar a Cristo.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O estouro da porcada

Então, saindo os espíritos imundos, entraram nos porcos; e a manada, que era cerca de dois mil, precipitou-se despenhadeiro abaixo, para dentro do mar, onde se afogaram. Marcos 5:13

A boiada vai sendo tocada, vagarosa e passivamente através do campo. De repente, uma rês se assusta com algo trivial – o voo rasteiro de uma ave ou a corrida de um roedor qualquer – e desencadeia o terror sobre o rebanho inteiro, que parte em disparada louca, destruindo roças e arrasando o que estiver pela frente. É o chamado “estouro da boiada”, temido pelos vaqueiros.

A Bíblia, entretanto, narra um episódio singular, em que uma manada de dois mil porcos se precipitou para dentro do mar, afogando-se. Mas, dessa vez, não foi um incidente comum que provocou a catástrofe.

Jesus havia chegado à terra dos gerasenos, quando veio ao Seu encontro um homem endemoninhado, que era atormentado por uma legião de demônios (Mc 5:9). Legião era uma divisão do exército romano, com 6.000 soldados. Mas não há como saber se este era o número de demônios que afligia o geraseno.

Os espíritos imundos perceberam que iam ser expulsos, e rogaram a Jesus que, em vez de mandá-los para o abismo (Lc 8:31), lhes permitissem entrar na manada de porcos. Jesus o permitiu, e nós sabemos o resultado.

O plano de Satanás, com esse pedido, era responsabilizar a Jesus pelo enorme prejuízo causado e levar o povo local a se voltar contra Ele. Aparentemente Satanás conseguiu o que queria, pois o povo veio pedir a Jesus que saísse dali.

A permissão de Jesus, entretanto, demonstrou que a saúde física, mental e espiritual de um ser humano tem muito mais valor do que as posses materiais. Além disso, Jesus queria que o endemoninhado tivesse uma prova palpável de que estava realmente curado. O homem ouviu os demônios pedirem a Jesus para entrarem nos porcos e, em seguida, viu os porcos se lançarem ao mar. Ele agora tinha certeza de que os demônios não voltariam.

Então Jesus mandou que o homem desse o seu testemunho: “Vai para tua casa, para os teus. Anuncia-lhes tudo o que o Senhor te fez e como teve compaixão de ti” (Mc 5:19). Ele obedeceu, e todos os que o ouviram se admiraram do que Jesus lhe fizera (v. 20).

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Arrependimento

Se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis. Lucas 13:5

Rudolph Hess, criminoso de guerra nazista, foi condenado à prisão perpétua e passou o restante de seus dias perambulando pelos corredores e jardins da prisão de Spandau, na Alemanha. Em agosto de 1987, após 43 anos de prisão, ele se enforcou.

Uma das coisas que mais chamavam a atenção na vida de Hess é o fato de que ele nunca se arrependeu de seus crimes. Acusado das maiores atrocidades que um ser humano poderia cometer, ele jamais sentiu qualquer remorso. Ao ser julgado em Nuremberg, ele declarou:

“Estou feliz por ter cumprido o meu dever para com o meu povo... como um leal servidor do meu líder. Não me arrependo de nada. Se eu fosse começar de novo, faria tudo da mesma maneira outra vez, mesmo que soubesse que no fim eu seria queimado vivo. Não importa o que os homens possam fazer comigo, um dia comparecerei perante o tribunal divino. Responderei a Ele, e sei que Ele me julgará inocente.”

Hess não sentia necessidade de arrepender-se. O seu orgulho não lhe permitia admitir qualquer culpa por seus crimes bárbaros.

Em contraste com a experiência de Hess, alguns jornais americanos publicaram, em abril de 1989, a experiência de Al Johnson, um homem originário do Estado do Kansas, que aceitou a fé em Jesus.

O aspecto marcante da sua história não foi sua conversão, mas o fato de que, como resultado de sua nova fé em Cristo, ter confessado sua participação no assalto a um banco, quando tinha dezenove anos de idade.

Como o caso já havia prescrito, Johnson não podia mais ser processado por essa transgressão. Entretanto, ele acreditava que seu relacionamento com Cristo requeria uma confissão. E por isso, ele voluntariamente reembolsou a sua parte do dinheiro roubado.

Arrependimento é muito mais do que reconhecer o erro. É mudar de atitude e procurar reparar o mal causado. Zaqueu, ao se converter, tomou a seguinte decisão: “Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais” (Lc 19:8).

Sentir arrependimento pelos pecados é o começo de uma nova vida. Pedir perdão a Deus e mudar de vida são os passos seguintes. Se você está disposto a mudar de direção, abra o coração à influência transformadora do Espírito Santo.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Insônia real

Deito-me e pego no sono; acordo, porque o Senhor me sustenta. Salmo 3:5

O rei Assuero, uma noite perdeu o sono. Revolvia-se em seu leito real, pensando talvez nos muitos problemas das 127 províncias sobre as quais se estendia seu vasto império. Talvez temesse alguma revolta ou conspiração, visando destroná-lo. Poderia até mesmo estar enfrentando uma crise existencial. A Bíblia não revela a causa da insônia de Assuero.

Sem conseguir dormir, o rei mandou trazer o livro das crônicas, onde os principais acontecimentos ligados ao governo eram registrados. Graças àquela noite indormida, a vida de um homem ligado à corte foi alterada, fazendo com que recebesse a justa recompensa por sua fidelidade.

O cronista havia registrado fielmente que Mordecai descobrira uma conspiração contra o rei e denunciara os rebeldes. Verificada a procedência de sua denúncia, os conspiradores foram enforcados.

O rei então interrompeu os cronistas, perguntando-lhes: “Que honras e distinções se deram a Mordecai por isso? Nada lhe foi conferido, responderam os servos do rei que o serviam” (Et 6:3).

Então Assuero, embora tardiamente, exaltou a Mordecai, fazendo com que fosse conduzido a cavalo pelas ruas de Susã, vestido com vestes reais, e acompanhado de um pregoeiro que anunciava em alta voz: “Assim se faz ao homem a quem o rei deseja honrar” (Et 6:11).

Não fosse aquela noite em claro, e o ato de lealdade de Mordecai teria ficado esquecido num volumoso livro de crônicas. Em tudo isto se pode ver a mão de Deus guiando Seus filhos, pois Mordecai não somente era leal a Assuero, mas também a Deus. E Deus o protegeu e usou como importante instrumento de preservação do povo de Israel, ameaçado de morte no império de Assuero.

Se aqueles que confiam em Deus, alguma vez passarem uma noite em claro sem saber por que, melhor seria se seguissem o exemplo de Assuero: passem em revista suas ações. É possível que, ao ler mentalmente o livro das crônicas de sua memória, você encontre ali o registro de alguém a quem não fez justiça. Talvez descubra um pecado não confessado. Se estiver em falta com Deus, ajoelhe-se imediatamente e acerte tudo com Ele. Se estiver em falta com seu próximo, resolva procurá-lo após o amanhecer e fazer-lhe justiça.

O melhor sonífero ainda é uma consciência tranquila depois de um cansativo dia de trabalho.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A salvação não é para todos

O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida. Apocalipse 22:17

Eric Hare, enfermeiro-missionário na antiga Birmânia, conta que um dia, um velhinho chegou chorando ao hospital adventista e pediu:

– Doutor, por favor coloque uma tala no meu polegar e ponha algum remédio. Quebrei-o dez dias atrás, quando caí de um coqueiro, e agora está doendo muito e cheirando mal.

Eric retirou o trapo imundo que cobria a mão e deu um suspiro. A parte quebrada estava negra e caindo de podre. Já era um caso de intoxicação do sangue. Inflamados vergões vermelhos já estavam subindo para o antebraço. Alarmado, Eric disse:

– Tio, o senhor precisa sentar-se e permitir que eu retire seu dedo. Ele está morto. Agora não há remédio que possa curá-lo. Se o senhor não me deixar amputá-lo, não demorará muito e o senhor morrerá com ele.

– Não, não, doutor. Ponha remédio – pediu ele.

– Agora é tarde demais para pôr remédio – argumentou o missionário. – Se o senhor tivesse vindo dez dias atrás, eu teria colocado remédio e uma tala. Mas agora é tarde demais. Vamos, sente-se e deixe-me amputar esse dedo agora, e salvar sua vida.

Mas apesar de tudo o que o enfermeiro lhe disse, o velhinho simplesmente abanou a cabeça e disse:

– Agora não, doutor! Agora não! Não muito longe de minha vila mora um poderoso curandeiro. Vou experimentar o remédio dele durante dez dias. Então, se eu não ficar bom, voltarei e deixarei o senhor cortar meu dedo.

Ele foi embora e nunca mais voltou, pois morreu cinco dias depois. Eric finaliza este dramático relato, dizendo:

– Quando eu soube que ele havia morrido, chorei. Eu podia ter salvo sua vida. Eu tinha tempo. Tinha o remédio. Mas ele não quis.

O enfermeiro teve de respeitar a decisão do velhinho. Não podia amputar-lhe o dedo sem o seu consentimento. O paciente não compreendia a gravidade do seu caso, e não sabia que ia morrer. Achava que se procurasse o curandeiro, ainda poderia salvar o dedo. E, na tentativa de salvar um dedo morto, perdeu a vida. Que tragédia!

A grande lição que essa história nos ensina, e também a Palavra de Deus, é que nem todos serão salvos. Salvação é só para quem quer. Quem não quiser, infelizmente vai se perder. Você decide.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

O Deus do impossível – 2

Ainda que o Senhor fizesse janelas no céu, poderia suceder isso? 2 Reis 7:2

Eliseu não argumentou com o incrédulo ajudante do rei. Apenas limitou-se a dizer: “Com os seus próprios olhos você vai ver isso acontecer, mas não vai comer” (NTLH).

Naquele mesmo dia, ao entardecer, quatro leprosos, do lado de fora dos portões da cidade, decidiram ir ao arraial dos sírios. Eles não tinham nada a perder: se ficassem onde estavam, certamente morreriam de fome; se invadissem o acampamento do inimigo, teriam uma pequena chance de ser poupados. Resolveram arriscar. E qual não foi a surpresa ao encontrarem o arraial completamente deserto. O relato bíblico nos diz que Deus fez os sírios ouvirem o barulho de um grande exército, com cavalos e carros de guerra. E ao anoitecer eles fugiram em pânico, abandonando cavalos, barracas, alimentos e todos os seus pertences.

Os leprosos fizeram a festa. Entraram numa tenda e comeram e beberam até se fartar. Daí apanharam prata, ouro e roupas e as esconderam. Foram a outra barraca e fizeram a mesma coisa. Então reconheceram que estavam agindo mal. Seus compatriotas estavam morrendo de fome na cidade, enquanto eles se banqueteavam sozinhos e gastavam o tempo indo de tenda em tenda escolhendo para si objetos de prata e ouro. Seria um crime ficar calados. Com medo de serem castigados, disseram: “Não fazemos bem; este é dia de boas-novas, e nós nos calamos; se esperarmos até à luz da manhã, seremos tidos por culpados; agora, pois, vamos e o anunciemos à casa do rei” (v. 9).

Quando as boas novas chegaram aos ouvidos do rei, ele achou que isto não passava de uma cilada dos sírios para tomar a cidade. Felizmente, porém, o seu servo tinha mais juízo e sugeriu que se enviassem alguns homens para verificar se o que os leprosos diziam era verdade. E o que eles viram foi impressionante: desde o arraial dos sírios até o rio Jordão, a mais ou menos 30 quilômetros de distância, “o caminho estava cheio de vestes e de armas que os sírios, na sua pressa, tinham lançado fora” (v. 15).

Tão logo o povo ficou sabendo disso, saiu e saqueou o arraial dos sírios. E a profecia de Eliseu se cumpriu ao pé da letra, pois naquele dia “três quilos e meio do melhor trigo ou sete quilos de cevada foram vendidos por uma barra de prata” (v. 16). Mas o ajudante do rei, que duvidara da promessa no dia anterior, viu, mas não aproveitou nada, pois morreu pisoteado pelo povo faminto no portão da cidade.

Este relato nos ensina que as promessas de Deus se cumprirão. Mas os incrédulos não desfrutarão da bênção prometida.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O Deus do impossível – 1

Acaso, para o Senhor há coisa demasiadamente difícil? Gênesis 18:14

Samaria estava cercada pelo exército do rei da Síria. A fome e o desespero, dentro dos muros da cidade, chegaram a tal ponto, que duas mulheres cozeram o filho de uma delas e o comeram (2Rs 6:29). “Israel havia sido advertido por Moisés, de que se eles se afastassem de Deus, enfrentariam tamanhas dificuldades que os pais devorariam a carne dos próprios filhos (Lv 26:29; Dt 28:53). Essa profecia agora encontrou o seu terrível cumprimento” (SDA Bible Commentary, v. 2, p. 887).

Os preços das mercadorias haviam disparado. A cabeça de um jumento era vendida por um preço absurdo: quase um quilo de prata. Note-se que o jumento é um animal impuro e os judeus só o comiam como último recurso, e a cabeça era considerada a pior parte e a mais barata. Além disso, “duzentos gramas de esterco de pomba custavam cinco barras de prata” (2Rs 6:25, NTLH). Até isso eles estavam usando como alimento. A que ponto chega um ser humano com fome!

Em meio a essa situação calamitosa, o profeta Eliseu predisse que no dia seguinte haveria tal abundância, que se poderia comprar “três quilos e meio do melhor trigo ou sete quilos de cevada por uma barra de prata” (2Rs 7:1, NTLH).

Era bom demais para acreditar. Como não havia o menor indício de que isto pudesse se cumprir, o ajudante pessoal do rei duvidou das palavras de Eliseu e lhe disse: “Mesmo que o Senhor Deus abrisse janelas no céu e fizesse cair trigo e cevada, isso nunca poderia acontecer! (2Rs 7:2, NTLH).

Os antediluvianos, que jamais haviam visto chuva, também não creram na pregação de Noé, anunciando uma chuva de tais proporções que inundaria o mundo todo. Mas o Dilúvio veio e os levou a todos. Sara não acreditou quando o anjo disse a Abraão que ela daria à luz um filho. Mas, no tempo certo, nasceu Isaque. Os genros de Ló não acreditaram que Sodoma seria destruída. E viraram cinzas, junto com a cidade. Tomé não acreditava que Jesus houvesse ressuscitado. Até vê-Lo e tocá-Lo.

Mesmo no mundo da ciência, o que parecia impossível num século, se tornou possível no seguinte. Quem, antes de 1969, acreditava que o homem iria à Lua?

Ora, se no mundo científico as impossibilidades de hoje se tornam possíveis amanhã, podemos nós esperar menos de um Deus que não conhece impossíveis? Como igreja e como indivíduos precisamos orar para que não tenhamos a mesma experiência do povo de Israel, que não entrou na Terra Prometida por causa da incredulidade.